sábado, 30 de abril de 2011

Poema em Sol menor

Toca a vida que ela é um improviso.
Tem sois menores, maiores,
com baixo na quarta, na sexta, ou no sábado
Com dó, ou sem dó, estando em si ou só.
É a improvisação com tom, sem tom,
com dom ou sem som, na pausa. Sem causa.
Toca essa vida, que ela é um improviso.

-Teus Araujo

quarta-feira, 30 de março de 2011

A pena pra mim é saudade

A pena pra mim é saudade,

..........................alva.
................pomba
...........da
.....voo
do

Do verso do vento.

Da epigênese da criação.

É a saudade que a pena tem
Da púrpura e lisonjeada
............................glória.

Do mistério
.................da vida
..............................simplória.


Aquela, que a pena tem...

Da verdade socada
.......................da tempestade.

Das águas limpas dos céus...

Hoje, a pena tem saudade
Eu,
...tenho pena.

Leitura

Alta, a tarde,ungida
do fruto da laranjeira
trazía na alva da folha
a fragrância da quimera inteira,
que na imagem -penumbrada- ,
me tranca e me ceia.

O vento sussurra,voeja
as enleias folhas, e dos peixes
retira a conversa e a voz...
às iras retrucam dizer-lhe atroz:
-Dai-o-as páginas e o sossego,
para que as palavras nos gerem a foz.

Como, a pomba,se na água
distraindo-se à brisa das ânsias:
No voo do encanto próprio,
agudas e ligeiras audácias,
a mosca me deixa às vácuas
molesto de suas danças.

Brincou, brincou, brincou
e sapeca embalada entreteu-se
silente, solícita e olvida
rendeu-se ao fluido do ar:
sem dono,passava a ermo
um cão que dalí era o lar.

A tarde,alta e ungida,
no anil tornava-se-ia
Os peixes ao mar retornavam
e o vento com a pomba dormia
e agora minh'alma de volta
e agora minh'alma podia.

Improviso

Do improviso
acho o passo
e me remexo.

Do meu piso
marco o passo
pro meu eixo.

Do meu riso
faço o laço
pro meu queixo.

E no sorriso
um compasso
pro que deixo.

Vertigem

Procurava e era atendido, como o voo do pássaro que é abraçado
à cor do vento fresco, e o furor era meu.
O José foi-se embora, Julieta morreu de agonia,
agora já se enterrou quem antes apenas dormia.

O afago das palavras jogadas, os olhares catados
sem volúpia e com carinho terno, foi minha outrora
A noite assombrosa que resgata a aurora
Vai sendo eterna, vadia, e fria.

Lugarejo

As campinas moram o querer brando.
Entram pela janela do meu mundo.
O horizonte acorda entre os olhos sonolentos
E a fuga é apenas uma fantasia valsando.

E há um sussurro assim calmo de mim mesmo.
O bocejo é um claustro que se desfaz em dia
Querendo esse lugar de fora da vida
Sem memória, sem despedida.

Um acordar tão simples e tão limiar
Como uma epopéia entre prazeres terrenos
Sob'encantos de ilíadas, divagando-se plenos.

O corpo semi nu entre pedaços de pano
e a sensação de que a noite foi feita enfim
e tudo que basta é ser humano.

Um canto atado num ar obtuso

Um canto atado num ar obtuso,
num canto obtuso um lar atado...

Atado
Atado
Atado

Um canto num canto
E o canto obtuso

Atado
Atado
Atado

Espanto

Um lar um lar
Um canto um canto

Obtuso
Obtuso
Obtuso

Ou me encanto
ou me recuso.

Um canto atado num ar obtuso

Ou me encanto
ou me recuso

Um canto atado num ar obtuso

Um lar um lar
Um canto um canto

Encanto.

Um canto atado num ar obtuso

Eu mesmo canto
e sou meu uso.

Um canto atado num ar obtuso

atado
atado
atado

obtuso
obtuso
obtuso

As paredes se encontram
lado a lado, som ajuntado.

Canto atado
lado obtuso

Ecoa...

Num canto obtuso: um lar atado...

Atado
Atado
Atado...

Cantar

Canto
e contracanto
outro canto.
No canto
encontro
tanto encanto.
No encanto
entro
cantando,
entretanto
a amar
tão tanto
quanto cantar.

Carta

Venho a ti, Andorinha, com a súplica
que emana e grita como um corpo devasso
da alma vã e a languidez do cansaço
Com desterro molhado que a lágrima implica.

Tu, que canta no repouso do espaço
As imensidades dos dias e noites funéreas
Ergue teus cânones as vozes etéreas
do sonho pousado em mares escassos.

Dos cedros seculares resta teu combate
Soldado como o Sol que renasce sempre virgem
sobra tu -ainda- de uma enfermidade humana.

Dentre o concreto renasça-te soberana
alterando entre a razão que vem valsando
e teu canto à ânsia da constância.

Uma sala vazia

Uma sala vazia
vazia, somente vazia
Não mais,
sempre vazia.
Sala atenta
que às vezes tenta
encontrar harmonia
espaço ausência
de companhia.
Chego
me achego
Melodia a neutralizar
me retrai lembranças
a Amar.
Sob a tarde tardia
que - a passar -
Suma formosa
forma encantar.
A sala deveras
consola ao incidir
ao ser só
a experiência a faz
não mentir.
Suas paredes brancas
observam indolentes
imóveis, cada tijolo
no interior recantam
e renasce antigo ardor
que ao envelhecer
pode ainda mais
o amor
entender.